quinta-feira, 3 de abril de 2008

Pra acabar de vez com essa disritmia

Álvaro (Leonardo Villar) vive apegado ao passado. Alice (Tonia Carrero) sofre de problemas de memória. A combinação é improvável, como a de todos os outros pares, casais e parcerias que desfilam pelo salão de Chega de saudade. Mas funciona, talvez por isso mesmo.

O maior mérito de Laís Bodanzky é evitar o sentimentalismo fácil. Seus personagens não provocam pena. E nem poderiam. Aquele bando de senhores e senhoras prova que o lema Carpe diem não é privilégio de adolescentes.

Marquinhos (Paulo Vilhena), o técnico de som, é o único que não entende as regras do jogo. Ao abandonar o equipamento pela enésima vez, enciumado, à procura da namorada Bel (Maria Flor), ouve a bronca do patrão: "Aqui não tem amor, só trabalho".

E que trabalho! Movidos a viagra, bolero e batida de maracujá, os freqüentadores do baile não medem esforços, sem tempo a perder, dispostos a aproveitar o que a vida tiver para lhes oferecer. Um beijo por dinheiro, uma hora no motel, um momento de brilho, um bilhete, uma cantada de fim de noite. Live fast and die old.

Sim, estamos falando de terceira idade. Os closes nos rostos de Tonia Carrero, Betty Faria e Cássia Kiss, todas ex-símbolos sexuais, expondo rugas no limite da irreconhecibilidade, fazem questão de lembrar desse detalhe, tanto quanto o rosto chupado de Jorge Loredo (em participação especial com jeito de homenagem). Mas o clímax dramático do filme é justamente a cena em que, de forma mais nítida, quase didática, a cineasta derruba rótulos como passado e presente, velho e novo.

É por isso que Gilson (Marcos Cesana), o garçom, acaba revelando seu desejo de se aposentar logo para poder mudar de lado e se tornar também um dos dançarinos. O espectador concorda.

#360

Chega de Saudade (2007)

Assistimos em 2/4/2008 no Cine São Luis.
A pipoca estava péssima.


Um ótimo filme para começar o projeto aposentadoria. Historinhas sobre relacionamentos, amor, expectativas e envelhecimento em um salão de baile da terceira idade. Isso tudo com música, muita música.
Foi chocante (para o bem) ver as rugas dos atores e atrizes tão ressaltados na tela. E choramos, os dois, em vários momentos. Claro, o "vários" diz respeito a mim, não ao Marcos.
Detesto quando as pessoas riem quando velhos se beijam ou se agarram nos filmes. DETESTO. Qual o problema de um velho ser sexualizado? Que esse povo todo que riu tenha uma velhice bem chata e cheia de limitações.

O porquê

Em 2005, eu e o Marcos prestamos um concurso para a Ancine. Prometemos que, se passássemos, iríamos assistir um filme nacional por mês. Pra saber o que se faz no Brasil, pra dar bilheteria pra quem merece, pra ficar atualizado, pra se divertir. Pra várias coisas.
Dois anos depois, soubemos que ele passou. É hora, então, de cumprir a promessa.
Como ele tem só uns 5 anos de contribuição para o INSS, deve ter que trabalhar mais 30 antes de se aposentar. Chutando um pouco, são 30 anos de Ancine x 12 meses = 360 filmes. E é isso que vamos colocar aqui.

As regras são:
1) temos que ver em cinema ou vídeo em cineclube. DVD não vale.
2) tem que ser nacional, mas também pode ser co-produção com outro país.
3) pode ser reprise, contanto que não tenhamos assistido antes.
4) podemos deixar passar alguns meses ou adiantar outros, mas a conta tem que fechar.

A grande dúvida é: será que um blog pode durar 30 anos? Veremos.